ÉRICO NOGUEIRA - OS CLÁSSICOS: GÓNGORA, POEMA 228
El poeta, traductor y ensayista Érico Nogueira nació en Bragança Paulista,
Brasil, en 1979. Es Doctor en Letras Clásicas por la Universidad de São Paulo.
Es autor de los libros de poemas O Livro de Scardanelli (2008) y Dois
(2010). Ha traducido dos libros: O Verdadeiro Che Guevara - e os idiotas úteis que o
idolatram (2009), de Humberto Fontova e Introdução às Artes do Belo - O que é filosofar sobre a
arte? (2010), de Étienne Gilson. La editorial É
Realizações publicó los cuatro libros. Trabaja como traductor y profesor de
lenguas y literaturas clásicas en São Paulo. Realizó estudios de doctorado en
la Universidad de Roma «La Sapienza». Ha traducido textos de Teócrito, Horacio,
Giacomo Leopardi, Hugo von Hofmannsthal, Durs Grünbein, entre otros.
Incluimos el enlace a una entrevista que le hicieron en 2011. Ha publicado artículos en las
revistas literarias Dicta & Contradicta y Terra Magazine. Otra muestra de su
escritura ensayística: «Por que não barato e bom?».
Al tratarse de un ensayo sobre una traducción al portugués, hemos decidido
publicarlo en su versión original.
El soneto de Góngora:
Mientras
por competir con tu cabello
oro
bruñido al sol relumbra en vano;
mientras
con menosprecio en medio el llano
mira
tu blanca frente el lilio bello;
mientras
a cada labio, por cogello,
siguen
más ojos que al clavel temprano,
y
mientras triunfa con desdén lozano
del
luciente cristal tu gentil cuello,
goza
cuello, cabello, labio y frente,
antes
que lo que fue en tu edad dorada
oro,
lilio, clavel, cristal luciente,
no
sólo en plata o víola troncada
se
vuelva, mas tú y ello juntamente
en
tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada.
Nascido em
Córdoba, sul da Espanha, em 1561, e falecido na mesma cidade em 1627, Luis de
Góngora y Argote viveu o ápice do chamado “siglo de oro” das letras espanholas.
Escreveu, diz-se, em “castelhano imperial”, uma língua não raro obscura eivada
de helenismos, latinismos, figuras retóricas e alusões mitológicas. Sua paixão
pela metáfora – ou, antes, pelo processo analógico que Gracián chamou de
agudeza e que propicia toda metáfora – chegou ao cúmulo do paroxismo e da obsessão.
Em Fábula de Polifemo y Galatea e,
sobretudo, em Soledades, chegou ao
autismo. Imerso no puro mundo das formas, solitário entre as engrenagens da
máquina poética, deu-se ao luxo de ser intransitivo. Wittgenstein esclarece: “Há
decerto o inefável. Ele se mostra – é o místico”.
Aos vinte anos,
se tanto, escreveu sua profissão de fé. É um soneto à moda de Petrarca, com
algo de Camões, e superior a ambos. Eu diria que é a cumulação da arte do
soneto, de suas possibilidades formais e, por que não, (o místico se mostra,
não é?) expressivas. Leiamo-lo:
Enquanto, ao competir com teu cabelo,
ouro polido ao sol deslumbra em vão;
enquanto com desprezo ao rés-do-chão
olha tua alva frente o lírio belo;
enquanto atrás do lábio, por querê-lo,
mais olhos que do cravo agora vão;
e enquanto triunfa com afetação
do luzente cristal teu ser de gelo;
goza gelo, cabelo, lábio e frente,
antes que a tua hora tão dourada,
–
ouro, lírio, lilás, cristal luzente –
não só em prata ou flor estiolada
se torne, mas tu e isso juntamente
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em
nada.
O que temos aqui,
neste soneto, não são símiles apenas. Aqui, ouro e cabelo, lírio e pele, não se
relacionam de maneira efêmera, casual, com o fito preciso de realçar as
qualidades físicas – e às vezes morais – da mulher amada. Neste soneto, os
valores plásticos, sonoros e conceptuais dos termos que, a cada vez, são
comparados e equiparados, se intercambiam. O cabelo é ouro; a pele é lírio...
Por trás dessa
transubstanciação, percebemos o poeta, como criterioso alquimista, a fazer o
inventário das coisas que o cercam. Conforme as qualidades, sensíveis, lógicas
ou simbólicas que tenham, dispõe-nas em dois grupos: as semelhantes e as
dessemelhantes. E eis aqui a descoberta, a glória de Góngora: perceber que os
elementos de um mesmo grupo, na alquimia de um poema, são de tal modo
intercambiáveis a ponto de dispensar, por supérflua, a explicitação do
princípio de semelhança que os ligou. A água não parece um cristal luzente; ela
o é.
Ironicamente, o
final da sua vida foi também o final da sua glória. Góngora tinha um rival na
corte madrilena, um homem a quem, afundado em dívidas, teve de vender a sua
casa na capital e retornar a Córdoba. Este homem era Francisco de Quevedo y
Villegas.
Dizem que os
grandes poetas prevêem o próprio fim. O caso mais próximo, ao que a mim me toca,
é o de Tolentino: sua Katharina, como ele, morreu aos sessenta e seis anos.
Quanto a Góngora, depois de perder o favor dos poderosos, voltar à cidade natal
e viver doente e sem fausto os dias que lhe restavam, não lhe pode haver
escapado que, ainda na juventude, descrevera o próprio destino. Os elementos
que dançam, que se refletem, refratam e repulsam, estão em contínuo desaparecimento.
Mal chegaram, eis que já se foram. Esta ida, porém, pode ser gradual, pode
obedecer a certa ordem, que o poeta, num lance de felicidade, pode apreender. É
o que a insuperável gradação da chave de ouro, repetindo cinco vezes um iambo
literalmente fatal, parece querer nos dizer. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
© Del ensayo: Érico Nogueira
© De la nota introductoria: Mario Domínguez Parra
outra bela tradução...
ResponderEliminar'do luzente cristal teu ser de gelo'
abraço.
Estimados amigos:
ResponderEliminarque un poeta joven se atreva a traducir a Góngora, y que además lo haga con acierto, es una estupenda noticia. Philippe Jaccottet, que en su momento tradujo las "Soledades" y una selección de sonetos del ceñudo cordobés, recrea de este modo en francés el famoso poema gongorino:
Tant que pour lutter avec tes cheveux
l’or bruni brille en vain sous le soleil ;
tant qu’au milieu de la plaine ton front
candide nargue le superbe lis ;
tant que plus de regards pour les cueillir
cherchent tes lèvres que l’œillet précoce,
tant que triomphe en un joyeux dédain
de l’ivoire brillant ton noble col :
jouissez, col, cheveux, lèvres et front,
avant que ce qui fut en ton bel âge
or, œillet, lis et cristal lumineux,
pis qu’en argent ou violette coupée
se change, mais toi-même avec cela,
en terre, ombre, fumée, poudre, néant.
Valiente reto el de traducir a Góngora, cuyo oro bruñido aún llega a nuestra admiración. Me encanta la traducción al portugués,respetando métrica y rima consonante y sobre todo ese genial mecanismo poético de dispersión-recolección muy propio de Góngora. En cuanto a la traducción de Jacottet, yo que de francés muy poco sé, si veo que ese mecanismo mencionado lo supera en su tradición y lo trae a lo contemporáneo.
ResponderEliminarSaludos.